As cabeças rolarão, não haverá piedade, clemência ou salvação. Contato e envio de textos: cabecascortadas@gmail.com

Olhos azuis

Linda. Ela era simplesmente linda.

Tinha os olhos azuis mais fantásticos que ele já havia visto até aquele momento da sua vida. Ele não conseguia encontrar nada que pudesse comparar com o brilho daqueles olhos. Amor à primeira vista. Literalmente. Diria ele mais tarde a ela.

Hanna era seu nome. Olhos lindos. Uma mulher fascinante. Hanna era a mulher perfeita. Linda, cabelos claros longos, rosto de menina, corpo perfeito. O longo vestido branco de alças delicadas, que deixava a mostra sua pele clara, delineava seu corpo perfeito e chamava a atenção de todos a sua volta. Um sorriso que transmitia pureza.

Conheceram-se por acaso numa festa de um amigo em comum, numa praia do litoral norte de São Paulo, durante as festas de final de ano.

Ele, já meio tonto de tanta bebida, acabara queimando o braço de Hanna com o cigarro sem querer. Antes de conseguir se desculpar já tinha levado um tapa na cara. Sem reação, ficou apenas olhando para aqueles olhos azuis, que lhe fuzilaram de ódio naquele momento. "Desculpe-me", foi o máximo que conseguiu dizer naquele momento. Que olhos lindos. Que olhos perfeitos.

Acabaram se tornando amigos e antes do final da festa, já se podia ver os dois passeando de mãos dadas pela praia.

A luz da lua fazia seus olhos brilharem ainda mais. Aquele momento, único, era um presente da vida para ele. Nunca havia conhecido mulher tão linda, tão inteligente, tão simpática e com um beijo tão gostoso como o dela.

Sempre se orgulhou de sua vida de solteiro, mas naquele momento jogaria tudo para o alto por ela. Solteirice, bebedeiras, boates e baladas.

Hanna era o seu nome. Era perfeita. À noite de ambos terminou no apartamento dele. Da varanda do apartamento se podia ver toda a praia. Bem mais longe, as luzes da cidade tornavam tudo perfeito. Sua vontade era ficar olhando para ela a vida inteira. Os olhos azuis mais lindos que já havia visto. À noite de amor mais perfeita que um homem poderia querer ter.

E agora, cerca de um ano e quatro meses depois, estavam eles novamente na mesma praia onde se conheceram. Onde ele fez suas promessas de amor eterno para ela.

Hanna. Através daqueles olhos ele viu o futuro de ambos.

Ela o olhava. Seus olhos continuavam fascinantes. Enterrada na areia da praia, próxima ao mar, com apenas a cabeça para fora, ela o olhava. Uma fita adesiva cobria seus lábios. Apenas seus olhos azuis podiam gritar em desespero enquanto ele acabava de jogar mais uma pá de areia no buraco em que ela estava.

Hanna. Como teve coragem de me trair? Depois de tudo que prometemos um ao outro? Como teve coragem de olhar para outro? Deixar outro homem olhar seus lindos olhos. Os olhos que me pertenciam. Os olhos que eu amava.

Presa na areia e com a boca vendada, o máximo que Hanna conseguia era olhá-lo desesperada. Seus olhos pediam perdão ao mesmo tempo em que o amaldiçoavam. Seus olhos azuis. Aqueles olhos que ele tanto amou.

A maré subia rapidamente àquela hora da noite. A praia estava deserta. Ele se agachou, beijou-a na testa e com uma faca arrancou os dois olhos de Hanna. Ela se debatia desesperada enquanto ele cortava seu rosto e com os dedos puxava-os para fora.

Enfiou os olhos no bolso da jaqueta e se afastou dela. De longe ficou olhando a maré subir até encobrir totalmente o amor da sua vida.

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