As cabeças rolarão, não haverá piedade, clemência ou salvação. Contato e envio de textos: cabecascortadas@gmail.com

Num dia de domingo

Foi um tiro. Rápido. Voraz e certeiro.
A bala entrou pelo lado direito da mandíbula e parou na base da coluna vertebral.
Um sorriso meigo. Uma vida inteira pela frente. De repente a escuridão. O silêncio. Enquanto o corpo da garota de cerca de 15 anos caia no chão do Shopping Center, ao seu redor podia-se ver o desespero e o alvoroço. Gritos. Correria. O pânico.
No momento em que o corpo da garota batia violentamente no piso frio do Shopping, uma multidão fugia desesperada, sem saber para onde ir. O básico extinto da sobrevivência humana era colocado à prova.
Outro tiro. Veloz. Furioso. Acerta as costas de uma moça loira de cabelos longos que tentava, em vão, proteger uma criança em meio a todo o desespero daquele momento.
A pobre moça cai de joelhos. Uma criança grita. Uma bela mulher cai morta. Podia-se ver nos olhos da criança o pavor. Seus olhos estavam paralisados. Em suas pequenas mãos, manchas quentes do sangue da mulher que a protegia a poucos segundos atrás, e que agora estava morta ao seu lado no chão.
Outro tiro. Certeiro como a morte. Penetra a testa da pequena criança paralisada de medo. Mais gritos preenchem os andares do Shopping. O cheiro da loucura preenche todo o ambiente. Caos. Loucura. Adrenalina. E uma criança cai morta sobre o corpo da mulher que há poucos segundos havia sido baleada.
Era uma tarde bonita de domingo. Um dia gostoso para se passear, se divertir. Tinha tudo para ser um típico dia de fim de semana.

- Você não devia ter feito isso.
- Cale-se! Já lhe disse! Cale a boca! Se fosse com você eu queria ver se estaria me dando lição de moral. Você não sabe o que passei. Você não entende o que eu sinto. Fácil para você que está de fora. Fácil para você falar e criticar.
- Você podia ter tentado conversar. Resolver isso de outra forma.
- Há há. Quem é você para me recriminar? O que você sabe da vida? Vive nesse seu mundinho protegido e cheio de alegria. Eu não. Eu vivo a realidade cruel da vida. Conheço a dor e o sofrimento. Conheço a perda, conheço a desgraça. Conheço o fundo do poço. E você? Há há! Ora, você não sabe o que está dizendo. Não sabe do que está falando.
- Eles vão te matar. E eu não posso mais te ajudar. Eu bem que tentei. Eu lhe disse que não deveria fazer o que fez. Agora não posso mais te ajudar.
- Eu não quero sua ajuda! Nunca quis! Quero que me deixe em paz. Vá embora. Pare de amolar. Me deixe.
- Paz? Acha que agora terá paz?
- Elas mereceram. Colheram o que plantaram. Aquela desgraçada me traiu. Durante todos esses anos eu fui enganado. Sustentei aquela vadia e as meninas durante todos esse tempo e para quê? Para aquela vadia ter um caso com outro desgraçado? E ainda ter a coragem de dizer que as meninas não eram minhas filhas? Vadia ordinária. Merecia sofre ainda mais.
- E que culpa as crianças tinham de tudo isso?
- Ora. Se eram as crias de uma vagabunda com um desgraçado não mereciam viver...

A polícia chegou rápido. Em questão de minutos dezenas de policiais cobriam o andar onde o atirador estava e também os andares superiores do Shopping.
Acuado e sozinho num canto perto dos elevadores, o atirador e seu rifle gritava e falava, como se mais alguém estivesse com ele.
O delegado estava parado perto dos três corpos assassinados. Uma garota de 15 anos, uma outra de 7 anos e a uma mãe. Uma bela mulher. Uma mãe cuidadosa e carinhosa, cujo único erro na vida foi ter se envolvido com um maníaco desequilibrado. Três vidas perdidas por conta de ciúmes, loucura e insanidade.
O delegado olhou para o atirador. De onde estava, ambos podiam se ver claramente. Nos olhos de ambos apenas ódio. Cada um com seus motivos próprios. Cada um com seu demônio interno. O atirador riu. Um sorriso cínico. Um sorriso provocador.
O Shopping todo havia sido evacuado seguindo as ordens do Delegado. Lá dentro apenas ele, seus homens e um desequilibrado doente com um rifle nas mãos.
Com apenas uma ordem, cerca de 18 policiais descarregaram suas armas contra o homem encurralado no canto da parede. Pelo menos 50 tiros crivaram de balas o corpo daquele homem. Uma poça de sangue se formava enquanto o Delegado se aproximava do corpo baleado. Em silêncio olhava para o homem que acabara de destruir três vidas e que deixava para trás um pai e um marido, fadado ao sofrimento pelo resto da vida.
- Seu doente. Eu já deveria ter acabado com você há muito tempo. Nunca devia ter deixado que chegasse nesse ponto.
Mais um tiro. Mais uma bala. Dessa vez na cabeça de um assassino já morto. Desta vez a bala sai da arma do Delegado.

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