As cabeças rolarão, não haverá piedade, clemência ou salvação. Contato e envio de textos: cabecascortadas@gmail.com

A dama da feiúra.

Não existia nada mais medonho que olhar para ela. Sua feiúra era tamanha que nem mesmo ela conseguia se olhar no espelho, sua casa já não os possuía. Mas ela insistia em ter prazer, em deleitar-se em camas diversas e ter em seus braços homens que a fizesse esquecer-se do quanto o feio tinha lhe sido exposto e exagerado.
Se fisicamente nada lhe parecia belo, sua voz compensava. De tom macio sem precedentes, seria capaz de mexer com os pensamentos de um padre só em dizer um ‘boa noite’. E era dona de uma lábia que venderia facilmente ouro em pó ou areia no deserto. Era assim que ela conquistava seus parceiros, primeiro em conversas pela internet, depois pelo telefone.
A dama era capaz de entorpecer literalmente com a beleza de sua voz e com as palavras certas na hora certa. Mas ao chegar o momento, um desejo seu tinha de ser realizado, não queria luz, não queria ser vista. Com medo de uma trapaça de algum parceiro, ela sempre chegava vem vestida e com uma echarpe de seda cobrindo-lhe o rosto. Como sempre bebia junto ao homem que estivesse em sua companhia, manipulava algum relaxante junto à bebida.
Usava todas as artimanhas da sedução para relaxar o objeto de seu desejo. Sempre havia dado certo, sempre tinha conseguido saciar-se de sexo. Mas naquele dia o cara corpulento não amolecia ao tomar o conhaque com relaxante. Por mais que ela lhe desse mais álcool batizado, nada fazia com que o homem ficasse da forma que ela sentisse tranqüila.
De súbito o homem a agarrou e tirou a seda que lhe cobria o rosto. Abismado com a feiúra da mulher, deu-lhe um bufete que ela rodou e caiu sobre a cama. O ódio tomou-lhe a cabeça. Ela pegou a bolsa sobre a cama e sacou um estilete. Enquanto o homem lhe chamava de demônio, ela, num salto caiu sobre ele e aplicou-lhe o estilete repetidamente no pescoço. Os olhos vermelhos dele olhavam para aquele mostro que agora lhe fazia sangrar. Ainda assim, ela usou das mãos do homem para se masturbar e sentir prazer. Afinal, era para isso que ela estava ali, independente de ele estar vivo ou não.

Plínio Gomes escreve: http://zingador.blogspot.com/, http://pliniogomes.blogspot.com/, http://blogcabecascortadas.blogspot.com/ e http://universoderetalhos.blogspot.com/
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