As cabeças rolarão, não haverá piedade, clemência ou salvação. Contato e envio de textos: cabecascortadas@gmail.com

Pesadelos.

Havia duas noites que não dormia direito. Desde que começou a ter os pesadelos, a cerca de uma semana atrás, não conseguia mais dormir tranqüilo. Acordava assustado todas as noites desde então. Suando. Várias noites teve que trocar de camiseta porque elas estavam ensopadas. Era sempre o mesmo sonho. Ele andava de madrugada pela rua sozinho. Estava frio. Muito frio. Vestia uma grande jaqueta e um cachecol. Ia andando por uma grande avenida, quando de repente alguém aparece, vinda de uma rua perpendicular a esta avenida. Era uma senhora. Ela vem andando em sua direção. Estava frio. Podia perceber que a senhora estava bastante agasalhada. Ele a agarra. Começa a apertar seu pescoço com suas mãos fortes. A mulher deixa cair a sua bolsa e leva suas mão ao pescoço, na tentativa de soltar as suas que a estão enforcando. Ele aperta cada vez mais o pescoço daquela senhora. O rosto da mulher começa a ficar escuro, meio avermelhado. Seus olhos começam a virar. A senhora morre em suas mãos. Estrangulada.
Ele acorda desesperado. Assustado. O que seria aquilo? Nunca na vida imaginou sonhar algo tão horrível. Matar alguém? Nunca. Alguma coisa estava errada. Sempre foi uma pessoa boa e pacífica. Detestava discussão.
Durante os últimos oito dias sonhou o mesmo pesadelo todas as noites. Resolveu então que não iria mais dormir. Ou então deixaria seu corpo tão cansado que ele não teria vontade nem de sonhar. Quem sabe assim não pensasse esses absurdos.
Havia pensado em procurar ajuda médica. Talvez um psicólogo ou talvez um psiquiatra. Mas não era louco. Sabia que não era louco. Também não lembrava de ter algum motivo específico para começar a sonhar essas barbaridades. Não havia visto nenhum filme de terror ou mesmo alguma reportagem que o tivesse chocado.
Já ouvira falar que os sonhos tinham um significado. Mas qual seria o seu então? Será que iria se transformar em um assassino? Ou será que era um tipo de aviso? Isso! Talvez fosse um aviso. Talvez ele corresse algum tipo de perigo. Talvez ele fosse ser estrangulado.
Não sabia mais o que pensar. Estava cansado. Acabou adormecendo no sofá da sala. E sonhou. O mesmo sonho dos dias anteriores. Acordou assustado. Suando. Meu Deus! O que está acontecendo?
Resolveu dar uma volta, esfriar a cabeça. Quem sabe fosse o seu sedentarismo que estivesse lhe fazendo mal. Dificilmente saia para caminhar e nunca fazia qualquer tipo de exercício. Pegou uma jaqueta no armário. Estava frio lá fora. Achou melhor levar um cachecol. Só por precaução.
Caminhou até o centro da cidade. Não havia ninguém pela rua àquela hora. Também, quem seria idiota para sair na rua àquela hora e com esse frio?
De repente uma senhora virou a esquina. O pânico tomou conta do seu corpo. Não acreditava no que estava acontecendo. Reparou em si mesmo e agora percebia o que estava acontecendo. A mesma jaqueta do sonho. O cachecol.
A senhora vinha em sua direção. Carregava apenas uma bolsa contra o peito. Caminhava olhando para o chão.
Não. Não posso. O que é isso? Não, não. Só podia ser uma coincidência. O destino estava brincando com ele. Não podia ser verdade. Tinha que estar sonhando. Isso mesmo! Estava sonhando. Só podia estar sonhando. Na verdade nada daquilo era real. Era apenas mais um dos seus pesadelos.
A senhora se aproximou.
Ele agarrou rápido o pescoço da mulher e começou a apertar. Ela, desesperada, soltou sua bolsa e tentou tirar as mãos dele do seu pescoço. Mas ele era muito forte. Podia-se ver um sorriso de felicidade em seu rosto enquanto apertava cada vez mais o pescoço da mulher. Ela não conseguia gritar. Ele apertava com força cada vez mais. Ela não conseguia emitir nada mais que pequenos gemidos. Ele percebia que ela estava ficando asfixiada e o sorriso em seu rosto aumentava. O rosto da senhora começou a escurecer. Avermelhar. Seus olhos começaram a virar. Suas mãos começaram a soltar as do seu agressor. Ela começou a não conseguir mais ficar em pé. E ele continuava a apertar. Cada vez mais forte.
Quando tirou as mãos do pescoço da senhora ela simplesmente caiu no chão. Estava morta. Ele então olhou para ambos os lados da grande avenida. Não havia ninguém. Voltou para casa. Tirou o cachecol e a jaqueta e colocou-as no armário.
Foi para o quarto. Deitou-se na cama e dormiu. Dormiu como há vários dias não conseguia dormir.

Cisticerco escreve:
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